Catequese de Crisma

Como posso ser salvo? – Tesouro inesgotável

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  • 24/11/2016
  • Catequese de Crisma

vaticano

“O que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.
Ele vai, antes de tudo, à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e o Seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.
O Senhor entrou onde eles estavam, levando, em Suas mãos, a arma da Cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com o teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu, que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.
Eu sou o teu Deus, que, por tua causa, me tornei o teu filho; por ti, e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’
Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, pois eu não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te e saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.
Por ti, eu, o teu Deus, me tornei o teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei a condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci até a terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos.. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim crucificado.
Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê nas minhas faces as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, a tua beleza corrompida.
Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar dos teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente tua mão para a árvore do paraíso.
Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como eva surgiu do teu ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.
Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu porém já não te coloco no paraíso, mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como deus, embora não sejas Deus.
Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”.

Este belíssimo texto (lido pela Igreja em todos os Sábados de Aleluia) foi escrito por algum cristão no século quarto. Nele, pode-se observar o verdadeiro sentido da mensagem que a Igreja, em seus dois mil anos de história, porta para todos os homens.
A “mansão dos mortos” de que fala o texto (ou o sheol, segundo o termo em hebraico) era o local em que aqueles que haviam morrido antes de Cristo aguardavam a redenção de todos os pecadores. Nesta “mansão dos mortos”, não havia vida, não havia esperança. Pois, nela, não havia Deus.
É por isto que o sheol se tornou o maior e mais perfeito símbolo do coração humano. Os filhos de Adão, pelo pecado cometido por seus primeiros pais, estavam condenados à uma vida sem esperança, a uma vida sem vida, pois viviam (e ainda vivem) sem Deus.
É para este filho de Adão que a Igreja instituída por Jesus Cristo traz a mais radiante e alegre notícia: o Senhor nos tem visitado. O Senhor, por Sua morte e ressurreição, tem descido no profundo dos nossos corações, para nos arrancar do sono da morte, para nos comunicar a vida eterna que, graças à Sua Paixão, ele nos pode oferecer: “acorda, tu, que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará; acorda, tu que dormes, pois eu não te criei para permaneceres na mansão dos mortos; levanta-te dentre os mortos; levanta-te e saiamos daqui”.
Esta é a essência da mensagem cristã. O homem estava incapaz de Deus, mas Deus veio até ele. Visitou-o para arrancar-lhe da escravidão do pecado e para lhe comunicar a vida eterna. Visitou-lhe para arrancá-lo do profundo sono e do profundo torpor em que ele se encontra, inebriado pelo vinho dos pecados, da futilidade e do prazer.
Em Cristo, e somente em Cristo, o homem pode, finalmente, encontrar a Vida e a Paz que tanto deseja. Não se engane aquele que estiver lendo estas linhas: somente Cristo é capaz de, pela Sua Igreja, comunicar-nos a vida. Vivemos num tempo de escuridão, no qual o homem é levado a crer que todas as religiões são iguais, e que todas as profissões de fé tem valor.
Mentira maior não poderia haver.
Somente Cristo morreu por nós. Somente Ele foi pregado na Cruz (“vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente tua mão para a árvore do paraíso”). Somente Ele foi humilhado (“vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original”). Somente Ele foi flagelado (“vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar dos teus ombros o peso dos pecados”). Somente Ele pode curar, em nós, as feridas dos pecados (“meu lado curou a dor do teu lado”).
Verdadeiramente, somente Ele é que pode nos conduzir à Vida Eterna (“[estão] abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”).
Por fim, é ele quem converteu e moldou (e continua moldando) o espírito de inúmeros santos; é a Sua mensagem que seduziu (e continua seduzindo) as mais brilhantes mentes da história.
Infelizmente, contudo, o homem moderno está se afastando de Cristo e de Sua Igreja. Os filhos de Adão reincidem no pecado de seu primeiro pai, enganados pela mesmíssima serpente. Voltam à mansão dos mortos, privando-se da árvore de vida.
É para este homem que, ainda hoje, a Igreja insiste em anunciar a Boa Nova da qual foi constituída depositária, levando, aos mesmos, e em vasos de barros, este inesgotável tesouro: o Reino dos Céus!

Autor: Alexandre Semedo
Fonte: Apostolado Veritatis Splendor

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